CIRURGIÕES EM ‘MATANÇAS’

Ao assistir recentemente a uma matança de um porco em casa de um vizinho, afloraram-me alguns pensamentos que vou partilhar aqui muito seriamente...

Já pensaram bem como é que será o comportamento e pensamento de um médico-cirurgião (ou ‘operador’ como dizem os velhos) ao assistir a uma matança de um porco na ‘terrinha’? Deve achar aquilo tudo muito ‘atabalhoado’ e mais estranho que o advogado José Maria Martins!
A primeira pergunta que de imediato lhe apraz fazer é se o porco está anestesiado, pois acha a ‘gritaria’ demasiado audível!
Igualmente estranho para ele deve ser o facto do ‘tabuleiro’ das ferramentas de trabalho se cingir a unicamente uma faca [comprida, por sinal]... e da não existência de pessoal auxiliar enfermeiro para dar esse(s) utensílio(s)!

O facto das pessoas [que vão ‘operar’] não desinfectarem as mãos e prescindirem de máscara também lhe meterá espécie... assim como a existência de malta a agarrar efusivamente o ‘paciente’ em vez de serem os anestesistas a tratar disso, para que o dito não sinta nada... e se mexa!
A ausência de marquesa é também algo macabro para qualquer cirurgião que assista a esta ‘operação’! Quanto muito vislumbrará umas destas duas coisas: uma ‘banca’ com 40cm de altura, constituída por duas tábuas pregadas lado a lado e assentes em tijolos... ou uma corda atada numa oliveira com roldana para erguer o porco no ar, puxado por um tractor de lavrar as terras de cultivo!

Também lhe parecerá bizarro o facto de lhe fazerem a ‘operação’ ao coração sem lhe abrir o peito no externo... e com tanto desperdício de sangue!
Outra coisa que ele entranhará é porque que raio depois da ‘operação’ ao coração, abrem o animal e lhe tiram as entranhas como se fosse em ‘definitivo’, se ele depois vai ‘precisar’ delas... para além do 'pormenor' de lhe sacarem [mesmo] tudo da cavidade abdominal lhe parecer um autêntico recorde [nunca visto] de órgãos a operar numa única intervenção cirúrgica!

Mas o mais estapafúrdio é o facto de, no fim de isto tudo, o pessoal ainda pendurar o porco de cabeça para baixo sem qualquer preocupação de que o sangue lhe possa ‘subir’ à cabeça (neste caso descer)... ou sequer ter o cuidado de lhe tratar as ‘feridas’ e ‘cicatrizes’ com Betadine* e o transferir depois para os cuidados intensivos!!!

Mas o que indigna profundamente qualquer médico é o corte final que fazem no lombo do suíno, para ver se o toucinho é 'alto' (gordo)! É então nesta altura que ele grita:
-“EPÁÁÁ... CHAMEM DE IMEDIATO O INEM, SE QUEREM QUE ESTE ANIMAL SUBREVIVA!!!”
...Nesse momento de tensão... o pessoal olha para ele e diz:
-“Então... tem lá calma pá! Vamos mas é pôr na brasa este bocado de toucinho que tiramos ali do teu ‘paciente’!...”

*Atenção: Betadine, não Betandwin