PASSAGEM DE ‘CARNE’

Há tempos assistia pela RTP a mais uma edição da Moda Lisboa, quando de repente... sou assolado por uma série de pensamentos que revelam algum problema na caspa...

Há indivíduos que só ali vão para ver as miúdas, portanto, se não as conhecem, só vão ver ‘carne’ a passar... até porque elas não dão confiança nenhuma à malta rebarbada. Cá para mim, se os manequins não andassem, pareciam que estavam mortos... eram ‘carne’ morta...

E se os designers de moda fossem talhantes, e estas passagem de modelos produzidas só para consumidores snobes de produtos animais... que iam assistir ao passar de ‘carnes’ para consumo alimentício?
Assim, desfilavam carcaças de frango, borrego... vazia de vaca, pá de porco, salchichas frescas, couratos de orelha de porco, etc... para que a nata dos consumidores [não vegetarianos] vissem as ‘tendências’ para a próxima estação, enquanto os comentadores faziam o seu trabalho...
-“Ora aqui está... na próxima estação vamos ter grandes novidades: a moda vai ser o pernil de porco preto do Alentejo, muito bom para presunto... e lombo de vaca de Trás-os-Montes, muito bom para assar no forno com batatinhas.”
-“Vejam como o próximo modelo é bem ousado... hummm... fígado de ganso para fazer patê!...
Bem... é estranho que a talhante Katty Xiomara tenha apostado neste tipo de fígado, quando tudo apontava que a tendência fosse o fígado da vaca para confeccionar iscas! Não achas Sofia Aparicio?”
-“Sim, sim... sim, sim...muito bom”

Assim sucessivamente e utilizando ganchos deslizantes, fazia-se a passagem da ‘carne’ morta. Os comentários da assistência eram estes...
-“Epá, acho que este ano o forte vai ser a carne vermelha, não viste em Paris? Com isto da gripe da aves de certeza que nenhum talhante vai apostar na carde de aves, tão em voga até à pouco tempo... olha o que fez a Katty!”
-“Tens razão, isso é certo!... E por acaso reparaste bem no que a Fátima Lopes apresentou antes da Xiomara... só ossos à mostra! Continua ousada como sempre... ninguém vai querer aquilo tão à mostra... e sem carne!...”

Será que se isto fosse mesmo assim, a Fátima Lopes em vez de desenhar ‘carne’ para a classe alta (como o faz na roupa), fazia-o para os pobres... mandando-lhe [e propondo-lhe] só os ossos?!...

P.S.- Este é o texto mais estúpido que já escrevi.